quarta-feira, 2 de abril de 2008

Blog publica artigo interessante, enviado por um leitor que reside na cidade de Aracajú-SE.

A Barragem Sangrou

Estou feliz com as fotos da barragem – Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró sangrando – vertendo, soltando água pelo velho sangradouro – assoreado e raso, em face, sobretudo ao pouco uso! Imagino a alegria da comunidade, passo a vê o vai e vem até o reservatório, para que se testemunhe de perto, quase de juntinho, as águas com tanta força as libertando. Enxergo os sertanejos pescando de pouca habilidade jogando suas tarrafas em busca da alguns peixes, em inadvertidamente, saltam pela alegria de viver e de nadar em águas novas e barrentas. Ouço a tagarelice dos curiosos questionando o volume da lâmina e as possibilidades de superação em relação há anos anteriores. E, claro, não tenho duvidas de que alguns pinguços estão no entorno do velho sangradouro, cobertos de motivos para tomarem mais branquinha, ainda que o tira-gosto seja o cheiro de terra molhada e do ar úmido, até que o peixe asse ou fique frito. A sangria de um açude no sertão faz com que os mais velhos regridam a mocidade e agucem a memória lembrando as festas vividas em distantes invernos e, nos mais novos, deixa à libido a flor da pele, concorrendo no mínimo, para crescimento da prole. O fato é acolhido como um fenômeno, pois já não ocorre naturalmente a cada ano, é sem dúvida uma grande festa, é uma dádiva! É a garantia da água de beber para os homens e para os animais, e mais pasto e comida para os bichos e, quem sabe, até fartura de milho e feijão. Quando o açude é grande até os pássaros vem abençoar com seus vôos rasantes e ao acompanhar a velocidade das águas, expressam o encantamento à natureza; lá certamente, vão estar às lavadeiras de cristo leves e solenes, assanhando-se em busca de lugares para ninhos, pois estão certas que não lhes faltarão trabalho e pão. Com a sangria do açude no sertão, até mesmo os mais abanados se emocionam e para demonstrar, em geral, sujam o carro e as botas com a abençoada lama. O açude sangrando no sertão atiça até mesmo o vigário, pela visão de fervorosos agradecimentos, seja por meio das preces ou de generosas ofertas durante as missas, batizando e casamentos. A sangria do açude no sertão faz os sertanejos esquecerem o quanto é difícil viver sob o sol escaldante e sobre a terra seca da região.

Engº. Agr°. José Holanda Neto – Aracaju/SE.

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